Leia o 1º Boletim da Terra Liberta (JUN/2022)

A LUTA DAS 70 FAMÍLIAS DO PICI CONTRA O DESPEJO ORDENADO PELA UFC


Piquete em frente ao Condomínio de Inovação e Empreendedorismo da UFC. (Foto: Caio Castro)

A UFC possui vários terrenos em Fortaleza e o maior é o Campus do Pici com 212 hectares. Entretanto, muito antes da universidade chegar, desde os anos 50 existem famílias que moram neste território. Lá, por volta de 1940 foi base aérea militar, depois foi repassado ao DNOCS e atualmente está sob a tutela da UFC.

Apesar de a moradia ter sido cedida às famílias pelas primeiras instituições que administravam o terreno, nunca houve uma regularização fundiária destas vilas.

Assim, ainda depois de 3 gerações, as famílias são oprimidas pela universidade. Seja restringindo a saída e entrada dos moradores, proibindo reformas nas moradias com risco de desabamento, perseguindo moradores com a guarda, fechando acessos à rua que levam as crianças a ter de pular o muro para ir à escola.

Não bastando essas opressões, a UFC em 2020 retoma um processo de despejo das famílias que havia sido arquivado em 1990. Hoje somam-se 70 famílias ameaçadas de despejo com uma grande quantidade de idosos. Dentre as justificativas para esta retomada do processo, afirma-se que será construído um parque tecnológico (PARTEC) para atrair empresas de tecnologia para a universidade.

A Terra Liberta, junto à Rede Estudantil Classista e Combativa (RECC), desde 2021 constrói a resistência com as famílias em articulação com a Frente de Apoio aos Moradores do Campus do Pici. ( @moradorescampusdopici ). Neste mês realizamos um piquete em frente ao Condomínio de Empreendedorismo e Inovação do Campus do Pici, onde ocorria um evento sobre o Parque Tecnológico (PARTEC), denunciando a crueldade que a universidade está promovendo.

Vamos até o fim junto às famílias, pelo direito ancestral ao território, à moradia digna.

POVOS DA ZONA COSTEIRA CEARENSE SE ORGANIZAM PARA ENFRENTAR AS TERRÍVEIS EÓLICAS NO MAR

A energia eólica não é uma energia limpa quando está a serviço dos interesses dos capitalistas! O Ceará nas últimas décadas foi palco de diversos ataques aos territórios tradicionais da zona costeira por meio de empreendimentos de parques eólicos. Povos camponeses, pescadores, indígenas, quilombolas tem seu território cercado e mercantilizado para uma produção de energia que nunca retorna ao povo explorado.

Não bastando esta violência com a terra do povo, os capitalistas ameaçam implantar eólicas no mar, as ditas eólicas off-shore. Algo que impactará diretamente a pesca artesanal das comunidades da zona costeira e, consequentemente, todo seu modo de vida.

Frente a isto, se forma a Articulação Povos de Luta que reúne diversas comunidades da Zona Costeira Cearense: Caetanos de Cima (Amontada), Curral Velho (Acaraú), Vila Nova, Tatajuba, Baixa da Tatajuba, Vila São Francisco, Coité, Maceió, Xavier (Camocim), Curimãs e Praia Nova (Barroquinha).

A articulação convoca as organizações, entidades e associações do povo a assinar a Carta Aberta à Favor da Pesca Artesanal em solidariedade a esta luta. A carta pode ser acessada pelo instagram @povosdeluta e pelo site da Terra Liberta.

Entendemos que a luta pela terra não reconhece fronteiras, seja no campo ou na cidade, a solidariedade é um dever frente aos ataques do capital.

EÓLICAS NO MAR, NÃO PASSARÃO!

DEFENDER O TERRITÓRIO,

FLORESCER A VIDA!

POLÍCIA MILITAR PROVOCA MASSACRE CONTRA
OS GUARANI KAIOWÁ APÓS RETOMADA DE TERRA ANCESTRAL

Velório do Guerreiro Vitor Fernandes

Texto escrito pelo núcleo da FOB no Mato Grosso do Sul

No dia 24 de junho de 2022 é retomado o território ancestral Kaiowá e Guarani, denominado Guapoy Mirin Tujury, nas proximidades da Reserva indígena Guapoy, do município de Amambai, território dominado pelo Estado brasileiro. As Reservas indígenas, criadas pelo Serviço de Proteção ao Índio nas décadas de 1910 e 1920 são espaços de confinamento criados para liberar terras indígenas para a colonização. Ainda assim, reservas como a de Amambai foram diminuídas por ações de grilagem, que tornaram o espaço para reprodução da vida ainda menor. O Batalhão de Choque da Polícia Militar do Mato Grosso do Sul é acionado para realizar despejo ilegal e provoca um massacre que resulta no assassinato de dois indígenas e em dezenas de feridos. Com tiros de fuzil 5.56, a Polícia Militar assassinou com três tiros o companheiro Guarani Kaiowá Vitor Fernandes, de 42 anos. Ainda, entre os feridos, 2 estão em estado grave, como um adolescente de 13 anos que teve suas vísceras abertas e se encontra na UTI. Nos hospitais, a polícia militar mantém os feridos sob ameaça e são relatadas práticas de tortura e perseguições com ameaças de morte após a liberação dos feridos, coordenada com os fazendeiros locais e seus pistoleiros.

O massacre pelos exércitos coloniais do Estado é coordenada pelo governo estadual, na figura do criminoso Reinaldo Azambuja e o carrasco posicionado na secretaria de segurança pública (SEJUSP/MS), Antônio Carlos Videira, que já havia realizado ação ilegal de despejo em 2018 com helicóptero contra retomada na região de Caarapó. O “Massacre de Guapoy”, como ficou conhecido, relembra também o Massacre de Caarapó ocorrido no dia 14 de junho de 2016, quando foi assassinado Clodiodi de Souza por fazendeiros. No caso do Massacre de Guapoy, é importante reforçar que a fazenda que está na área retomada pelos indígenas – Fazenda Borda da Mata – é de propriedade da empresa VT Brasil Administração e Participação, controlada por Waldir Cândido Torelli e seus três filhos, que possuem quase 4000 hectares de terra no total em fazendas espalhadas pelo MS, inúmeros comércios e associados à sonegação de milhões de reais em impostos, contrabando de gado, e parceria com fazendeiros brasileiros no Paraguai com histórico de ocupação de Terras Indígenas Guarani Kaiowá, como no caso de Arroio Korá. Este massacre se conecta às redes internacionais de exportação de commodities, como gado, soja e milho exportados para China e União Europeia, principalmente.

Capsula de 556
encontrada na retomada

Neste momento, a cidade de Amambai e a aldeia estão sitiadas e militarizadas. O Estado segue com sua ofensiva, mas amedrontado com a ampliação das retomadas: em 1 mês, os Guarani e Kaiowá avançaram 3 vezes para recuperação de seus territórios ancestrais. É a quarta tentativa de retomada apenas em 2022 em diferentes tekoha na região do cone sul do Mato Grosso do Sul. Os povos preparam sua rebelião, conscientes de que não há saída pelo Estado burguês. Somente a autodefesa, a retomada das terras ancestrais e a solidariedade popular irão garantir nossa vitória. É o momento de levantar as lutas anticoloniais por Terra e Liberdade, arrancando das garras do latifúndio o território onde os ancestrais e os encantados ainda cantam. Que possamos tecer uma grande rede de apoio aos Guarani e Kaiowá neste momento, denunciando a chacina cometida pelo Estado e pelas empresas do agronegócio, acendendo a chama da revolta popular.

Avançar as retomadas, destruir o latifúndio!

Vitor Fernandes Guarani Kaiowá: presente!

Alex Lopes Guarani Kaiowá: presente!

Clodiodi de Souza: presente!

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