Ocupação Emiliano Zapata, organizada pela Terra Liberta/FOB, sofre despejo em Fortaleza

No dia 5 de Março de 2022, as 15 famílias que compunham a Ocupação Emiliano Zapata em Fortaleza-CE foram despejadas de um terreno abandonado entre o bairro Serrinha e Castelão em Fortaleza pela PMCE.

A Ocupação é organizada pela Terra Liberta, sendo fruto de seu trabalho de base nas periferias de Fortaleza com famílias que tem sua vida limitada pela falta de acesso à terra, à moradia digna.

O terreno ocupado possui 1,5 hectares e estava há décadas abandonado, tendo recebido um investimento público de mais de 700 mil reais para a construção de uma praça, porém já passou 6 meses da data de entrega da obra. O que se tem são ruínas de uma antiga praça em uma pequena parte do terreno, enquanto a sua maioria é ocupada pela vegetação que ao longo do tempo virou um espaço de depósito de lixo.

Na manhã do dia 5 de março, a Terra Liberta iniciou a ocupação com uma limpeza do terreno, recolhendo lixo e preparando a área para o acampamento.

Por Que Ocupamos?

A ocupação é uma prática histórica de Ação Direta para atingir nossos objetivos como organização popular. Neste caso, nosso objetivo é uma terra para as famílias em luta, uma terra para erguer uma comunidade liberta das opressões, um lugar de comunhão. Nisto vemos dois caminhos: a desafetação do imóvel ocupado para conter tanto as moradias das famílias quanto a praça que sirva à toda comunidade além da natureza com mais plantio de árvores e hortas comunitárias; outro caminho seria que o estado destinasse outro imóvel vazio para as famílias. Seja qualquer dos dois caminhos, a ocupação busca tensionar para que o estado cumpra com nossas reivindicações. Não entramos nesta terra para desmatar, roubar e oprimir, isto já é a prática histórica dos ricos e governantes.

Homenageamos o grande líder camponês Emiliano Zapata no nome de nossa ocupação. Zapata é uma figura histórica não só na Revolução Mexicana, mas na luta pela libertação dos povos em todo o mundo.

O Documento de Ferro que Mata

Nas primeiras horas da ocupação alguns moradores das redondezas conversaram conosco, a maioria que vinha das comunidades mais populares considerou justa a ação, relatando que o mesmo terreno já foi tentado ocupar 4 vezes, porém sempre acabando em despejo. Em um dado momento um homem idoso chega raivoso e gritando com as e os militantes. Dizia ser militar aposentado, que aquela terra era do exército e que não podíamos estar ocupando o terreno. Questionamos sobre o documento do terreno. Ele tirou sua carteira do bolso e mostrou sua carteira de militar abarrotada. Quando calmamente falamos: “não é este documento, mostre o documento que este terreno é do exército”, pois sabíamos que não era, ele disse “Documento do terreno? ele tá aqui ó, o documento”, e sacou um revólver das calças em meio mulheres grávidas, crianças, idosas; inclusive deixando a arma em um dado momento virada para uma de nossas militantes.

Infelizmente, como não estávamos filmando na hora, não temos registro do momento exato que ele saca a arma. Logo após sacar a arma, além de afastar as crianças, repudiamos sua ação desumana e em seguida ele saiu correndo do terreno. Temos alguns registros quando ele já se afastava.

Foi um momento de bastante tensão. Um momento que demonstra bem como os poderosos justificam sua propriedade nesta sociedade em que vivemos. Além de violento, o gesto de puxar a arma quando perguntamos sobre o documento do terreno é bastante simbólico. É como se dissesse: “Eu não preciso de documento para mandar nesta terra. Minha propriedade se justifica na bala, no meu poder de matar e oprimir quem eu quiser! “. Nessa sociedade, a propriedade não é de quem trabalha, mas de quem tem o poder das armas para impor sua vontade. Foi assim que os ricos e poderosos roubaram as terras do povo e é assim que eles mantém o povo na miséria.

” Olha só, sem terra mas tem celular ! “

Após a saída do militar aposentado, começaram a chegar moradores de um condomínio das redondezas. Ao contrário dos moradores das comunidades mais populares, alguns destes moradores chegaram com ódio e vomitando toda sua discriminação, seu racismo e e sua alineação. Alienados pois apesar de provavelmente serem assalariados, pertencerem a mesma classe que nós, nos atacam tal qual a classe dominante burguesa nos ataca. Alguns dos representantes do loteamento vieram alegar que o imóvel era área verde do condomínio, mostrando um mapa genérico. Uma hora dizem que a terra é do exército, outra hora é privada, outra hora é pública como alegamos. O fato é que o ódio por estarmos ocupando um terreno que estava abandonado e sendo depósito de lixo é o que está por trás de todo este rodeio. Se fossem mais sinceros poderiam dizer: essa terra é para tudo, menos para pobre viver.

Representantes do condomínio acusaram que a ocupação seria aliada do tráfico se ali permanecesse. Uma total falta de respeito com as famílias que ali buscavam uma terra liberta das opressões que já vivem. Para coroar a discriminação e preconceito, ao ver uma criança segurando o celular da mãe disseram: “Olha só, sem terra mas tem celular!”. Como se fosse possível comparar a aquisição de um celular com um pedaço de chão em uma cidade onde o metro quadrado custa em torno de 4.000 reais. O fato é o ódio escancarado aos pobres que a Ocupação Emiliano Zapata sofreu.

10 viaturas

Com o passar do tempo foram se acumulando viaturas policiais nas redondezas, do Grupo de Operações Especiais (GOE) ao Comando Tático Motorizado da Polícia Militar do Ceará (COTAM-PMCE). Como sempre o Estado se usando da força policial para reprimir quem luta pelos seus direitos. Chegou ao ponto de ter 10 viaturas policiais nos arredores da praça para o despejo da ocupação. Visto a desproporcionalidade de forças, a Terra Liberta negociou a saída pacífica e realizamos um recuo tático da Ocupação Emiliano Zapata

Força Tática da PM-CE abordando ocupantes

Recuar sem arredar o pé da luta!

O Recuo não é uma derrota quando é tático. Não tiramos de nossos olhos e mentes o objetivo: Conquistar a terra para as famílias e construir a Comunidade Emiliano Zapata! Todos os ocupantes afirmam com vigor: Não arredamos o pé da luta! É preciso se preparar mais ainda para as ofensivas que virão. Fortalecer o trabalho de base a organização combativa das famílias. Nunca esquecer do que Marighella nos ensinou.

A única luta que se perde é aquela que se abandona

Carlos Marighella

O povo nunca conquistou suas vitórias com facilidade. Nessa não será diferente! Maior que as forças opressoras é o poder dos oprimidos unidos para subverterem a ordem e construírem um novo mundo pelo poder do povo.

A NOSSA LUTA
NINGUÉM EMPATA
AVANTE, OCUPA
EMILIANO ZAPATA

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