Somos 33 famílias trabalhadoras, organizadas junto à Organização Popular Terra Liberta, moradores há décadas na Av. Cel Matos Dourado, Padre Andrade em Fortaleza, Ceará. Na década de 1970, nossos familiares fizeram parte da massa de trabalhadores que ajudaram a construir e a servir o Campus do Pici da Universidade Federal do Ceará (UFC). Autorizados e sob a ciência de autoridades da universidade, construímos nossas moradias sob a terra batida enquanto, muitos de nós, erguíamos construções do campus que se formava.
Contraditoriamente, a mesma universidade que nossas famílias ajudaram a construir nos aparece como autora de um pedido de reintegração de posse neste mês de abril de 2024. A angústia tomou conta de nossas vidas, chegando a prejudicar a saúde de idosos que vão à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) por estarem se sentindo mal.
Em assembleia, no dia 9 de maio de 2024, decidimos que iriamos resistir. Pois não há como aceitar décadas de moradia, pagamento de IPTU, além de água e energia, nossa história toda ser soterrada por uma ordem que vem de uma universidade que tem a marca de nossa mão em suas construções.
No dia 8 de abril, a Defensoria Pública da União, acertadamente, se manifestou nos autos dos processos exigindo, dentre outras coisas, um tratamento estrutural ao problema que existe, visto que este não é um caso isolado. Ao todo, podem se contabilizado em torno de 600 moradias, em sua imensa maioria de famílias trabalhadoras, que estão na mira de processos de reintegração de posse pela UFC.
Acreditamos que a UFC pode e deve ter outra postura. A gestão do ex-reitor Cândido Albuquerque (2019 a 2023), promoveu esta onda de ordens de reintegração de posse, sob a justificativa de construção do Parque Tecnológico da UFC. Na gestão atual do Reitor Custódio Almeida, entretanto, os processos continuam a avançar. Sem nenhum diálogo direto com as famílias afetadas por estas decisões judiciais.
Neste sentido, viemos por meio desta carta aberta à reitoria da UFC demandar:
1. Que a reitoria da UFC realize uma audiência com as famílias ameaçadas de despejo.
2. Encerramento de todos os processos de reintegração de posse da UFC contra as famílias.
3. Construção de um plano de regularização fundiária para todas as famílias.
Por fim, fazemos o chamado a todas as organizações do povo a solidarizar a esta luta justa que estamos enfrentando. Cada gesto de solidariedade entre o povo é um novo mundo que cresce sem injustiças ou sofrimentos.
Assinado: Famílias da Perimetral ameaçadas de despejo pela UFC
Organizadas junto à Organização Popular Terra Liberta
Fortaleza, 16 de maio de 2024.