No dia 24 de janeiro, celebramos a memória dos 190 anos da Revolta dos Malês, reconhecida como o maior levante urbano de pessoas escravizadas nas Américas. O episódio, ocorrido em Salvador, Bahia, em 1835, foi liderado por africanos muçulmanos, escravizados e libertos, conhecidos como malês.
Antes da revolta, o Brasil proclamava independência, em 1822; que logo se demonstrou com farsa. Como poderia um país ser independente com seu povo escravo? A economia do açúcar que crescia a época aumentava a mão de obra negra na Bahia, ao ponto de serem quase 80% da população de Salvador a época. Uma verdadeira panela de pressão.
Os insurgentes, muitos dos quais eram falantes de yorùbá, inspiraram-se em suas tradições culturais e religiosas para organizar uma tentativa de mudar sua realidade. A capacidade de unir diferentes crenças foi bastante importante. Os malês, adeptos do islamismo, construíram articulações entre terreiros de candomblé e irmandades cristãs negras.
A insurreição reuniu cerca de 600 participantes armados, que enfrentaram as forças policiais nas ruas de Salvador. Apesar da derrota, a revolta teve repercussões significativas, tanto no Brasil quanto internacionalmente. Documentos da época mostram como jornais de diversos países relataram o evento, associando-o aos temores de outras revoluções inspiradas pelo Haiti e debatendo sobre as condições da escravidão no Brasil.
As consequências da revolta foram severas: muitos participantes foram mortos, açoitados, presos ou deportados. Mesmo assim, a Revolta dos Malês permanece como um símbolo de resistência e luta pela liberdade, destacando a força cultural e espiritual daqueles que enfrentaram um sistema profundamente opressor.
Ao mantermos essa memória acesa, iluminamos as pegadas de nossos ancestrais que constituíram a classe trabalhadora que mantêm sua caminhada rumo à libertação.
Em memória das lideranças: Ahuna; Pacífico Licutan; Sule; Dassalu; Gustar; Manoel Calafete; Luís Sanim; e Elesbão do Carmo.