Nota Política da Organização Popular Terra Liberta, filiada à FOBCE/FOB.
22/09/2023
O dia da eleição para os conselhos tutelares dos municípios se aproxima. Junto a isto, vemos em várias comunidades pobres campanhas de candidatos que com o discurso de “cuidar das crianças” querem a confiança do povo. Mas quais os interesses envolvidos e quais a postura que deveremos ter para realmente cuidar das crianças de nossas comunidades?
Cuidado com a Escadinha!
O cargo de conselheiro tutelar é muitas vezes utilizado como escadinha para alguém que quer fazer carreira política. Muitas vezes não há comprometimento com o cuidado com as crianças, mas sim interesse a facilidade de ganhar o cargo e a divulgação que ele dá para as eleições futuras.
Por exemplo: Na eleição de 2019 em Fortaleza, o conselheiro eleito com menos votos teve em média 700 votos. Enquanto para vereador na mesma cidade você precisa ter aproximadamente 29 mil votos.
Conservadorismo
Infelizmente muitos conselheiros tutelares também tem posturas conservadoras e preconceituosas. Usando do poder do cargo para oprimir pessoas de diferentes religiões, como foi em São Paulo o caso da mãe Kate Ane que teve a guarda da filha retirada por conta de ser do Candomblé. Não havendo prova de quaisquer maus tratos, a guarda foi devolvida pelo juiz após 17 dias. Isto é racismo religioso!
Muitas vezes o conservadorismo e o interesse eleitoral se juntam e fazem partidos que oprimem as comunidades pobres financiarem campanhas de conselheiros tutelares.
De liderança popular a conselheiro
Sem duvidas há pessoas do povo que disputam as eleições para conselheiro. Muitas delas podem até ter uma história de luta com sua comunidade. Porém, existe algo que muito se esconde: a ação direta do povo é muito mais poderosa que todo o conselho tutelar.
O caminho
Em vez de depositar nossos desejos em um cargo que o Estado dá, as comunidades devem se organizar para pautar dentro de suas reuniões os direito das crianças. A partir disto é possível definir ações que pressione o Estado para cumprir o que se precisa: vagas na escola pública, creches, atendimento pediátrico e muito mais.
Muito mais importante do que repetir a receita que o estado sempre nos impõe em eleger alguém para resolver nossos problemas é tomar a solução pelas nossas próprias mãos. É preciso que as crianças de uma comunidade sejam responsabilidade de toda a comunidade, e assim passem a ser responsabilidade de todos e todas.
Como dizia um provérbio africano: É preciso de uma aldeia inteira para educar uma criança. O patriarcado faz com que toda responsabilidade se jogue nas costas da mãe, enquanto muitos pais nem de perto sabem o que é cuidar de um filho.
A indiferença com as crianças é tão grande que, em 06/09/23, uma criança autista de 9 anos chamada Heitor se perdeu da mãe na Universidade Estadual do Ceará (UECE) e morreu afogada em uma lagoa. Situação que poderia ter sido evitada se ao ver uma criança sozinha as pessoas buscassem ajudar ela.
Não é um caminho fácil, mas como sempre dizemos: só o povo salva o povo. Uma grande revolucionária já disse que todos os trabalhadores são irmãos. Então não seremos livres se não cuidarmos dos nossos irmãos. E isso começa no cuidado de nossos irmãos pequeninos, mas que carregam um novo mundo em seus corações.
1 comentário em “Mais Importante que o Conselheiro Tutelar é a Comunidade Organizada para Defender os Direitos das Crianças do Povo”